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domingo, 10 de julho de 2011

Monster - Capítulo 5 - Parte II

PARTE II:

– Me mostre Tyler. – sussurrei ao espelho que estava apoiado nos meus joelhos. Tinha observado-o bastante ultimamente, ele era intrigante com seus gostos e tinha algo em comum comigo: uma mãe problemática. A dele muito mais que a minha, claro, mas Cinthia também só se enrolava e nunca tinha tempo para mim.
Tyler estava sentado no canto mais afastado em seu quarto pequeno, seu rosto coberto de lágrimas.
Não duvidava que ele estava chorando por culpa da mãe.
Ainda estremecia toda vez que via ele apanhando até sangrar da mulher que gerou ele.
Alguém girou a maçaneta da porta. Apressei-me em enxugar as lágrimas com a manga da minha blusa de frio. Agora tinha várias, todas largas e com capuz, mas a minha favorita era a do meu pai.
– Maria? – perguntei, tentando não me chatear por ela não ter batido na porta antes de entrar.
Ela parecia preocupada.
– Valerie, nós precisamos conversar. – ela se sentou no sofá e deu uns tapinhas no assento ao seu lado, para que eu sentasse.
– O que foi? – perguntei, preocupando-me. – Aconteceu algo com o meu jardim ou a estufa?
Por favor, não! – supliquei em silêncio.
– Não, seu jardim está bem e a estufa também.
Soltei o ar, sem ter percebido que tinha prendido-o. Relaxei um pouco mais.
– Bem, Valerie, você sabe o quanto eu me importo com você, não é? – assenti. Noel e ela eram meus amigos agora. – E é porque eu me importo que preciso lhe dizer isso. Quando eu vi você começar a cuidar do jardim, eu fiquei tão feliz por você! Eu achei que seria uma boa coisa para te distrair. Por um tempo foi, mas depois... Você parece um zumbi perambulando pela casa, parece morta! Ou você está trancada com as plantas ou trancada aqui e no seu quarto e não pense que eu não sei que você chora todos os dias escondido.
Fitei o seu semblante, tão preocupado e cheio de piedade, perguntando-me como ele descobriu que eu choro sendo que estava sendo tão cuidadosa para que ninguém descobrisse.
– É deprimente vê-la assim dia após dia. E sobre a maldição? – eu tinha contado a ela e a Noel tudo, e por incrível que pareça os dois acreditaram e aceitaram bem.
– Eu não quero falar sobre isso. – desviei o olhar para a janela, respirando fundo e entrecortado. Eu sabia muito bem do que ela estava falando e do que iria falar, mas simplesmente não estava pronta para ouvir. Não ainda.
Lembrei-me de algo que meu pai me disse aos meus cinco anos de idade quando eu fiquei depressiva por vovó ter morrido. Eu simplesmente não queria aceitar os fatos.
“Você tem que respirar fundo e enfrentar a realidade” – foi o que ele me disse – “Precisa ser forte e enfrentar a realidade por mais difícil que ela seja.”
Duvido que ele próprio tenha seguido o conselho, porque um ano depois ele simplesmente foi embora de casa, fugiu de mim e de mamãe, a sua realidade.
Como eu não era o meu pai, respirei fundo e voltei o olhar para Maria, sabendo que mais cedo ou mais tarde teríamos aquela conversa. Quanto antes acabasse com tudo aquilo, melhor.
– Tudo bem. – suspirei. – Fale.
– Você desistiu sem tentar! – ela procurou minha mão sem tirar os olhos de mim. – Tudo que você tem é um ano e você deixou sete meses passarem! Valerie, eu sei que você não quer ficar assim, então você precisa achar alguém! Ou pretende que um garoto caia do céu no seu colo e tenho o que as pessoas chamam de “amor a primeira vista”?
Respirei fundo mais duas vezes antes de responder, um nó se formando na minha garganta.
– Olhe para mim. – pedi, apertando de leve os dedos da sua mão esquerda que estava posicionada no meu joelho. – Olhe para mim. – abaixei o capuz. – Você acha que alguém seria capaz de amar um... Monstro assim? Uma aberração?
– Se você ao menos tentasse conhecer alguém, poderia mostrar a essa pessoa o que há dentro de você, a beleza que eu sei que há por baixo dessas cicatrizes.
– Ela está certa. – Noel surgiu do nada na porta, como se estivesse estado ali o tempo todo só esperando a sua hora de entrar.
O rosto de Noel quase parecia normal. Sem nenhuma imperfeição para mim. O seu caráter e sua personalidade eram tão bons, que a beleza dele vinha de dentro para fora, não importava como ele era fisicamente ou como se vestia. Queria que alguém pensasse assim em relação á mim.
– Você precisa tentar. – ele sentou-se do meu outro lado e pegou a minha mão. – Por favor.
– Apenas tente, saia um pouco daqui de dentro e somente tente se socializar com um garoto. Então nós te deixaremos sucumbir na sua derrota em paz, mas tente. – Maria completou.
– Pelo menos uma tentativa, Valerie. Por nós que estamos presos aqui com você.
– Me desculpem. Eu sei que é um fardo.
– É claro que não! – Maria acariciou minha mão e Noel saiu.
– Certo. – sorri, dando-me por vencida.
Eles tinham razão. Tentar não mataria ninguém.

2 comentários:

Palloma disse...

Aii!! Que bom que Valerie vai pelo menos tentar!
*-*
SORTE

Cassy disse...

kkkkkkk! Veja amanhã no que deu isso.