Monster - Capítulo 4 parte II

Uhu, mas um capítulo! Boa leitura e não esqueçam de comentar!
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PARTE II:
Subi as escadas e entrei em uma sala vazia, com muitas caixas e outro sofá de couro. O parapeito da janela era grande o suficiente, então empurrei as cortinas e me sentei ali.

Abri o anuário e escolhi um nome qualquer da página.

– Mostre-me Angela Stefan.

Uma garota loira e baixinha, um zero total usando aparelho entrava no shopping e se dirigia á praça de alimentação.

Olhei todas as pessoas do anuário até a letra T, vendo o tempo passar. Nada muito interessante, algumas pessoas saindo da escola e indo encontrar os amigos, algumas mais próximas do meu circulo de amizades comentando sobre o meu sumiço para a “reabilitação”, notícia que tinha pelo visto ido parar até no jornal.

– Me mostre Tyler Benson. – pedi ao espelho e olhei o fluxo de pessoas na rua, alheias ao monstro logo ali em cima, sentada numa janela. Um homem correu pelo sinal aberto, xingando um motorista.

– Já vai! – o espelho gritou. Olhei-o e vi Tyler Benson sentado em cima de uma cama num quarto pobre, com os fones de ouvido de um iPod enfiados nas orelhas e um livro na mão. Ele largou o livro (Harry Potter e as Relíquias da Morte) na cama e foi até a porta.

Percebi que era o garoto de que eu tinha roubado o destilado no baile de inverno.

– Oi, mãe. – sua voz soou cansada.

Uma mulher alta, morena e magra como o filho entrou no quarto, usando calça jeans e uma blusa decotada além da conta. Ela tinha os olhos vermelhos e marca nos braços.

– Tyler, você tem algum dinheiro para me emprestar? – sua voz estava largada, difícil. A mulher se enrolava nas palavras.

– Dinheiro? – ele gritou, os óculos de aro quadrado azul marinho caindo na ponta do nariz. – Para quê? Dinheiro para você comprar mais drogas, mais bebida?!

– Tyler, não! – ela berrou de volta – Escute aqui! Primeiro, não levante a voz comigo!

Arregalei os olhos ao ver a mãe de Tyler levantar a mão e dar um tapa tão forte nele que o garoto caiu sentado na cama, a boca sangrando.

– Jesus! – exclamei, assustada. Que tipo de mãe era aquela?

– Segundo, eu estou dando todo o dinheiro que posso para Jeff, porque ele ameaçou você se eu não desse o dinheiro para ele em menos de ano!

– Você nem se preocupa comigo! – ele gritou.

– Cala a boca! – Menino malcriado! – ela andou até ele e o bateu como se ele tivesse cinco anos e tivesse aprontado. Eu costumava humilhar as pessoas como ele, nerds, zeros à esquerda, mas jamais, em hipótese alguma bateria em alguém.

Não tinha a mínima graça.

– Para! Você está me machucando!

Estremeci ao pensar em como seria se minha mãe fosse como a mãe dele.

– Chega! – gritei ao espelho, virando-o de cabeça para baixo, ouvindo somente o silêncio. Aquilo era horrível demais para que eu visse.

Olhei pela janela e vi uma mulher passar um batom vermelho nos lábios, andando a passos apressados. A lua brilhava cheia no céu.

Alguém bateu na porta do quarto.

– Quem é? – gritei, perguntando-me como sabiam que eu estava ali, já que a luz do quarto estava apagada. Era mais fácil viver nas sombras.

– Você desejaria ter suas aulas aqui? – a voz de Noel surgiu.

– Eu não quero suas malditas aulas!

Era verdade. Nunca gostei da escola, muito menos de estudar.

– Maria está perguntando se você irá descer para o jantar. – sua voz permanecia calma.

– Eu não estou com fome! Vá embora!

Passei as próximas semanas acordando e indo até o quinto andar, observando pessoas pela janela ou alunos pelo espelho. Mas uma hora até mesmo ver Tyler e sua mãe horrível, seus gostos intrigantes, me entediou.

Era tarde de sábado, quando decidi ver o jardim pela primeira vez. Vesti o casaco do meu pai – que agora era meu –, puxei o capuz e desci, saindo pelas portas do fundo. O jardim estava um lixo completo, a grama alta e descuidada, as árvores com galhos exagerados e mal cortados, os canteiros sujos com folhas velhas e flores mortas no chão.

Olhei para a rosa em meu pulso, tão linda como se estivesse plantada ali no meio daquele jardim morto, uma esperança no meio da feiúra.

Sentei no chão e observei mais uma vez a rosa, pensando. Eu jamais acharia alguém capaz de me amar do jeito que eu estava, muito menos em um ano.

Eu ficaria assim pra sempre.

Suspirei olhando o quão feio o jardim e a estufa lá atrás estavam e olhei para o meu pulso novamente.

Eu não podia fazer nada para mudar a minha situação, nunca voltaria a ficar bonita de novo. Mas o jardim ainda tinha esperanças, ele só precisava de um empurrãozinho.

– Senhora Valerie? – Maria apareceu atrás de mim, espantada por me ver sentada na terra, sujando meu jeans caro da Calvin Klein.

– Por favor, Maria. Você me conhece desde pequena. Não me chame de senhora.

– Como prefere que eu a chame? – ela sorriu um pouco me vendo fora de casa.

– Só Valerie. Onde Noel está? Eu queria perguntar algo a ele.

– Você se sente bem... Valerie? – seu sorriso aumentou.

– Sim. – sorri, verdadeiramente. Nada nem ninguém podia me ajudar, mas eu podia fazer o jardim voltar a ficar bonito. – Vou cuidar do jardim, e queria saber que livros ele pode me indicar para ajudar com jardinagem.

O sorriso de ânimo que Maria me deu foi o suficiente para me fazer sorrir também.

Noel apareceu alguns minuto depois, e os dois me ensinaram tudo que podiam.

Durante os meses seguintes, dediquei-me ao meu jardim e a minha estufa, usando todo o dinheiro da minha mãe em livros, árvores, todos os tipos de flores, rosas para a estufa e em uma fonte para o jardim. Enquanto estava com minhas plantas, me sentia bem como não me sentia há um bom tempo.

Passava boa parta da noite com o meu jardim, imaginando que eu poderia me ver livre da maldição se tivesse uma ajuda assim como o jardim. E de dia eu dormia e ficava vendo as pessoas pela janela, observando um ou outro pelo espelho somente para ver se havia alguma novidade. Embora as plantas me fizessem feliz, toda a vez que deitava a cabeça no travesseiro não podia impedir as lágrimas de virem, do pânico me assolar. Porque eu não teria ninguém para me ajudar a me livrar da maldição, ninguém que pudesse ver além do meu exterior e encontrar algo bom – se houvesse algo – em mim, ninguém que pudesse me amar. Cada dia que passava era a comprovação disso.

Eu estava perdida, e as únicas coisas que tinha e que não me julgavam eram minhas plantas, Maria e Noel, que se mostraram amigáveis e que se importavam comigo, eu sendo um monstro ou não.