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sábado, 9 de julho de 2011

Monster - Capítulo 5 - Parte I

Boa leitura!
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Capítulo 5

Não via à hora para a noite cair e enfim eu puder ir cuidar das minhas flores e minhas árvores. Elas eram minha vida. Eu morria um pouco por dentro a cada pétala de rosa, tulipa ou orquídea – principalmente as rosas que eram as minhas favoritas –, morria um pouco a cada planta que ficava seca e ia embora, seu ciclo de vida completo.
Estava vendo as pessoas passarem pela rua outra vez, esperando o sol se pôr mesmo que só fossem três da tarde. Um casal que deveria ter por volta de 17 anos – minha idade – trocava carícias embaixo do poste de iluminação, mas não as carícias do tipo que eu e Honor ou qualquer uma das minhas ex-amigas trocavam com os namorados. Não era vulgar. Era apaixonado, como se um entregasse a alma ao outro, naqueles toques doces, suaves, e profundos ao mesmo tempo.
Nunca fui tocada assim, e provavelmente nunca seria.
Observei as feições dos dois, nada acima da média. Eles não eram bonitos nem feios. Eram normais. Antigamente, eu teria corrido os olhos por todo o corpo dos dois e apontado mil e um defeitos insignificantes. Eles não eram bonitos, não tinham nenhum atrativo físico, mas estava claro o amor que sentiam um pelo outro e como somente isso bastava para a felicidade dos dois. Talvez beleza não fosse tudo, afinal. Porque olhando para aquele casal na rua, me toquei de que eu era linda, uma deusa em forma humana, mas tinha a certeza de que nunca me senti tão feliz como eles. Na verdade, tinha certeza de que mesmo tendo todo o dinheiro e tudo que eu queria aos meus pés, na verdade nunca tinha sido feliz.
Eu me sentia bem humilhando as pessoas porque isso me fazia – ao meu ver – superior, mas isso não me fazia feliz. Nem mesmo minhas plantas me faziam sentir tão feliz quanto aquele casal deveria ser todos os dias. Claro, meu jardim me fazia muito feliz, mas era uma felicidade vazia. Só uma distração para que eu não pensasse 24 horas por dia na minha monstruosidade que duraria para sempre.
Não haviam esperanças para mim.
Só percebi que estava chorando quando me ouvi soluçar, os olhos vidrados no que o garoto estava fazendo lá na rua. Ele se ajoelhou diante a namorada e tirou uma caixinha preta de veludo de dentro do bolso da calça. Estendeu a caixa aberta para a namorada enquanto dizia algo que eu não era capaz de distinguir.
Então a garota se lançou nos braços dele e os dois rodopiaram.
Pela cena toda, julguei que ele a tinha pedido em casamento.
Solucei ainda mais, sabendo que nunca seria surpreendida com um anel dessa forma.
Outra coisa que aprendi com as plantas foi que sempre há beleza, até nas coisas mais simples. Aprendi a olhar os defeitos – especialmente os físicos – como algo bom, algo que mostrava que a planta era diferente das outras. Aprendi a amar cada planta diferente até mais do que as outras, como uma rosa amarela pequena, menor que meus dois dedões juntos que veio com um espinho quase maior que ela. O espinho, seu defeito, era a forma dela se proteger por ser tão pequena.
Pensei no quão fútil eu era até um tempo atrás e o quanto isso não me levou a nada bom.
Então lembrei do meu perfil no site da escola, um dos perfis mais visitados. Desci e entrei na internet.
Assim que o site abriu, desativei a minha conta.
Como as flores, eu estava num ciclo, no meio de uma mudança. Não sabia mais quem eu era.
Mandei um e-mail para Claire, minha “amiga”. Tão amiga que nem se deu ao trabalho de me procurar.

CLAIRE, VOU SAIR DA REABILITAÇÃO NO FIM DO MÊS. REENCONTREI MEU PAI E ESTOU INDO MORAR COM ELE NA SUÍÇA
VALERIE.

Sabia que cinco minutos depois que ela lesse aquilo meio mundo estaria sabendo. As pessoas ao meu redor eram tão “leais” que eu não duvidava nada de que Honor e Claire já tinham ficado pelo menos uma vez desde que eu sumi.
Subi de volta para sentar na janela e abracei os joelhos, deixando os soluços e as lágrimas me dominarem. Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente.
[Continua...]

2 comentários:

Palloma disse...

Amei!
Que bom que a Valy está mudando! *o*

Cassy disse...

Pois é!